décimo
A madrugada vinha tarde. Tardava sempre, em
conluio com a insónia. Os primeiros raios de sol apareceram com uma timidez
exposta na sua demonstração. Era tímido o sol da nossa vida. Era tímida a nossa
vida ensolarada. Havia sempre algo perturbante por detrás da sua aparição.
Porventura, o segredo do seu embaraço. Seria a sua reticência fruto da
indecisão da vida? Talvez. Na realidade, a madrugada vinha tarde, sempre tarde.
Tal acontecia todos os dias, sem exceções. A minha vigília era sempre até de manhã.
Não tinha a capacidade de um sono regular. Creio até que não o fazia há tempos.
O ter um sono regular. Essa era a faculdade de alguns, não de todos. A nossa
mente encarcera-nos na atenção e na consequente insonolência. Somos fruto das
nossas opções e, estas, são fruto da nossa mente. Aqui, bem dentro da nossa
cabeça, debatemo-nos que nem leões pela paz. Esta nunca chega, não no estado
puro que ambicionamos. Chega sempre em amortizações parcelares. Insuficientes. Exagerava
em ti. Extravasavas-me e beliscavas-me as intenções. Mas era eu, não tu.
Cláudio Barradas
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