quinta-feira, 16 de novembro de 2017

o segredo

Levo esta vida, a minha vida, não tenho outra. Esta vida é de mim, só de mim e sobre mim.
Falo de mim, sem medos ou receios. Sinto-me completo assim, bem assim. Por muito passei, muito aprendi, muito assaquei por onde passei. De quem conheci. De quem coloriu a minha vida. De quem eu deixei pintá-la e de quem eu fechei as portas, não permitindo a sua entrada. Não dei hipóteses de a preencherem com memórias.
Por vezes propositadamente, outras não. Apenas passaram e não entraram, ficando bocados por preencher. Passaram ao de leve, de fora, sem interferências. Nalguns casos fui implacável, noutros fui injusto. Todos somos uns, e uns de cada um.
Dei a cor que quis e a música que compus. Sou o pintor e o maestro da minha vida. Pelo menos assim o julgo. Dei os passos que quis dar e nos momentos que julguei oportunos, sendo que a oportunidade é criada por nós, quando queremos, quando a vemos, quando a sentimos. Todo eu sou um emaranhado de emoções, de vida. Um emaranhado de complexos “eus”.

Sou fervor andante.

Este é o segredo de mim, a minha vida e nada mais que ela. Segredo, profundo, porque dela só eu sei e nela só eu passei. Da vida vivida e da vida sentida. Da vida respirada e da vida sofrida. Dos fogachos de felicidade e das cicatrizes infligidas. Das eternas marcas que ficaram e comigo permanecerão. Dos momentos eternos que passei. Das pessoas que conheci e das que não conheci, porque não quis, porque não pude, porque não se proporcionou. Da família que tive e da família que construí, ganhei, ganharam-me. De tudo e bem, só eu sei. E bem. Este é o segredo de mim, profundo e pessoal. Carne da minha carne e sangue do meu sangue.

 "Para Todo o Sempre"
Cláudio Barradas e Chiado Editora

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