oitavo
Numa
dada manhã, sem conseguir precisar quando, ao acordar, abri um olho. Depois o
outro. Não era igual a visão dos dois olhos abertos. Sentia fortes espasmos
visuais que se manifestavam unicamente com os dois olhos abertos. Voltava a
fechar um, depois o outro. Aí via bem, só com um olho. O que se passava?
Perguntava-me. A normalidade da visão sucumbia, estranhamente, à dualidade da
vista. Resolvi tapar um olho. Coloquei uma pala à frente do olho, presa por um
fio em torno da cabeça. Escura e opaca, algo desconfortável. Experimentava num
olho e depois no outro. Acostumava-me à comodidade da facilitação da visão.
Nesse momento, de experimentação, somente com um olho descoberto, via bem. Sem
dores e espasmos nebulados. Sugava as dioptrias que teimosamente me
acompanhavam à muito tempo. Trucidava a miopia.
As
lágrimas não corriam nos meus olhos. A constante negação erguia barreiras à sua
formação. Opunha-me veementemente à sua mera existência. Tal, não era opção.
Não para mim. A tal não me permitia. Paralelamente à minha vontade, imiscuía-se
uma réstia de realidade. Esta, sodomizava-me as ideias barricadas na minha
mente. Tão pomposa parecia esta promíscua dicotomia. Era somente a realidade a
lutar com a fantasia, com o imaginário. Agora sei. O crepúsculo divino da
sobriedade maquiavélica que se mostrava presente e dizimava os meus ideais.
Imaginários.
Mas
era eu, não tu.
Cláudio Barradas
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