segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Songs of lust and lost - a demanda da paz - oitavo

oitavo

Numa dada manhã, sem conseguir precisar quando, ao acordar, abri um olho. Depois o outro. Não era igual a visão dos dois olhos abertos. Sentia fortes espasmos visuais que se manifestavam unicamente com os dois olhos abertos. Voltava a fechar um, depois o outro. Aí via bem, só com um olho. O que se passava? Perguntava-me. A normalidade da visão sucumbia, estranhamente, à dualidade da vista. Resolvi tapar um olho. Coloquei uma pala à frente do olho, presa por um fio em torno da cabeça. Escura e opaca, algo desconfortável. Experimentava num olho e depois no outro. Acostumava-me à comodidade da facilitação da visão. Nesse momento, de experimentação, somente com um olho descoberto, via bem. Sem dores e espasmos nebulados. Sugava as dioptrias que teimosamente me acompanhavam à muito tempo. Trucidava a miopia.
As lágrimas não corriam nos meus olhos. A constante negação erguia barreiras à sua formação. Opunha-me veementemente à sua mera existência. Tal, não era opção. Não para mim. A tal não me permitia. Paralelamente à minha vontade, imiscuía-se uma réstia de realidade. Esta, sodomizava-me as ideias barricadas na minha mente. Tão pomposa parecia esta promíscua dicotomia. Era somente a realidade a lutar com a fantasia, com o imaginário. Agora sei. O crepúsculo divino da sobriedade maquiavélica que se mostrava presente e dizimava os meus ideais. Imaginários.

Mas era eu, não tu.

Cláudio Barradas

Sem comentários:

Enviar um comentário