terça-feira, 28 de novembro de 2017

Songs of lust and lost - a demanda da paz - nono

nono


No alto vi-a. Era uma imagem perfeita, uma figura incontornável. Seguia-a com o meu olhar. Movia-se graciosamente. Uma folha, solta, desprendida da sua árvore, a flutuar ao sabor do vento nos primeiros dias de outono. Deliciava-me com o seu andar, imaginava-me ao seu lado, segurando-lhe a mão, afagando os seus dedos, entrelaçando-os nos meus. Imaginava-nos lado a lado, a sorrir e a confidenciar o nosso amor. O nosso amor que não existia. Que nunca tinha sido uma realidade. Mordia os meus lábios à procura do beijo que nunca tinha recebido. Sabia de cor o sabor dos seus lábios, sem nunca a ter beijado. Demagogia pura ou imaginação. Não interessa. Não nego este sentimento unilateral, não o nego. Não o nego. Era capaz de mostrar a minha boca marcada pelos beijos que nunca recebi. Mas sentia-os. Sentia-os como se fossem verdade. Como se fossem reais. Como se as nossas bocas ainda estivessem ligadas naqueles beijos. Seguia naquele ritmo calmo. Passo ante passo seguia e eu segui-a com o meu olhar. Só com o olhar, até a perder de vista. Até desaparecer após passar uma esquina. Fechei os olhos e continuei a segui-la. Continuei a seguir-te. Era eu, não tu.

Cláudio Barradas

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