É interminável a ânsia de chegar. Chegando, ofuscamo-nos na solidão da
chegada. Sós e sem destino, ficamos absortos no local onde estamos e esperamos.
É na espera, solitária, que acendemos a luz da nossa imaginação. Aqui,
inebriados pela fantasia, sugamos a sua energia e nadamos nas suas ondas
imaginárias. Fantasiamos sobre a vida, sobre a vida que não temos. Não
necessariamente sobre a vida que desejaríamos ter, não sobre isso, apenas sobre
a vida que não temos. Colorimo-la com cores inexistentes. Sorrimos. Sentimo-nos
a chegar onde queremos sem sairmos do mesmo lugar. Nunca chegamos a chegar, na
realidade, apenas fazemos questão de nos aproximar, imaginando, com o claro
intuito de chegar, mas nunca acontece. Nunca nas nossas fantasias. Não desistimos.
Continuo a imaginar, a fantasiar e a sorrir. Mais não sou que um fantasista
convicto, daqueles que fantasiam com tudo. Nunca chegando a lugar nenhum. É
precisamente o nunca chegar a lado nenhum que dá beleza ao que imaginamos. Por
vezes imagino-me a imaginar. Imagino-me num local paradisíaco. Só, e a pensar
sobre o que nunca fiz, locais que nunca visitei e sobre pessoas que nunca
conheci. Sobre este local, paradisíaco que não conheço. Que nunca conhecerei. Que
não existe. Imagino-me a imaginar que eu não sou eu. Eu sou outro e vivo uma
vida que eu não vivo. Não que a quisesse viver, imagino-me somente a vivê-la e
como seria bom vivê-la. Acho. Imagino as cores em todos os locais do mundo. Como
são diferentes. Imagino-me a pincelar o céu de azul, ou de laranja. De negro.
Isto sim, isto é imaginar. Aproximo-me de tudo e de todos, como um ser
omnipresente, quando imagino, quando solto as longas asas da minha imaginação.
Apuro todos os sentidos, tornando-me num super-homem, aguerrido e cintilante no
escuro da vida. Imaginava assim, tal e qual assim. Era eu, não tu.
Cláudio Barradas
|
Google Images |