décimo quarto
Mesmo se todo o mundo estivesse a olhar eu dançaria contigo.
Não sabes mas odeio dançar. Mas dançaria contigo. Fazia tudo contigo. Contigo.
Não posso. Não sabes e não queres. Não quererias se soubesses. Não faz mal.
Está tudo bem assim. Dentro da normalidade do nosso afastamento, do nosso
desencontro. Do nosso desamor. Vivo assim, dentro da normalidade de um amor
existente, mas não mútuo. De um amor real, mas dentro da minha imaginação. De
um amor presente, mas distante. Distante de ti, de nós. Não de mim. Dou por mim
a pensar em ti. Sempre e como um louco. Como um louco por ti. Sedento de
notícias tuas, de sinais. De provas de vida, de existência, de felicidade. Sou
feliz com a tua felicidade e isso para mim basta. Sacia-me. Basta assim, sabes?
Simples assim para me sentir bem com a vida. Comigo. Aceitei esta condição de
suplente não utilizado. Não convocado sequer. Nem pertenço à equipa. Mas estou
aqui, como sempre a imaginar-me contigo. A contemplar-me em ti, tal e qual
assim. Visiono-nos juntos, a partilhar a vida. Numa luta não violenta por nós,
pela nossa vida. Não acontece. Não vai acontecer. Sou corroído por esta
impossibilidade, por este não acontecimento. Sinto-me vivo assim, mas a
definhar bem lentamente neste amor em uníssono. Neste monólogo de desejo, de
desejo de ti. Mas era eu, não tu.
Foto: Pinterest |
Cláudio Barradas
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