sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Songs of lust and lost - a demanda da paz - décimo nono

Como uma força fútil, equilibramo-nos no rigor da vida. Passamos tempo a determinar o pré-determinado e a mitigar o factual passado. Corroemo-nos na divindade do inatingível. Não mais somos que um espelho distorcido do que pretendíamos ser, se o soubéssemos. Mais não somos que uma transparência fosca de um raiar arredado, de uma aura assimétrica aos nossos desejos. Um bocejo infinito tolda-nos a perseverança. Que não temos. De quem não somos. Somos sim um reflexo de nós. Uma miragem fosca do que queríamos ser. Um raio de luz coberto de pó. Determinamo-nos coerentemente na insensatez da nossa vida. A nossa vontade é prescindível. Não serve o nosso propósito, é ignorada na e pela vida. Entretanto, cingimo-nos ao acessório que nos é permitido, focando-nos no previsível, no esperado. No que nos está destinado. No que me foi prometido. Era eu, não tu.

Cláudio Barradas

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